Painel

A educação matemática geralmente ocorre em ambientes multiculturais, exigindo práticas de ensino e aprendizagem afetadas pela história, pela migração e pela globalização. A partilha de investigação e de boas práticas em educação matemática que surgem nestes ambientes multiculturais é, assim, de grande relevância.

A finalidade deste painel é refletir sobre questões e explorar experiências que surgem nas práticas e na investigação em educação matemática associada a aspetos culturais. De seguida apresento, a título de exemplo, algumas das questões que poderão servir de mote para a reflexão/discussão no painel.

Que novos desafios surgem nas perspetivas metodológicas utilizadas em ambientes multiculturais na educação matemática? Como é que eles podem ser abordados?

Que desafios se colocam aos educadores matemáticos e aos investigadores em educação matemática, quando trabalham com e em ambientes multiculturais diversos?

Que oportunidades surgem na interação entre a investigação em educação matemática em ambientes multiculturais e o desenvolvimento e implementação de políticas locais? Que conhecimentos podem ser desenvolvidos na análise dessa interação?

 

Matemática e Cultura: que conexões?

A matemática é universalmente considerada imprescindível na educação de um jovem, estando presente em todos os currículos escolares do mundo, quer pelo seu aspeto utilitário, mas também pela sua vertente formativa sendo uma componente essencial da cultura integral de cada individuo. O estabelecimento de conexões de natureza diversificada tem um potencial indiscutível no processo de ensino e aprendizagem da matemática. Por um lado, o reconhecimento de redes de relações dentro da matemática contribui para uma construção mais sólida e coerente do conhecimento matemático; por outro lado, a exploração de conceitos matemáticos em articulação com outras áreas de conhecimento ou com a vida real contribui para a compreensão do património cultural matemático que existe para além da matemática como disciplina.

Com base nestas ideias serão apresentados alguns contextos favoráveis de aprendizagem matemática assim como exemplos de algumas tarefas promotoras de conexões matemáticas em particular com a realidade e com as artes.

(Isabel Vale)

Propomo-nos discutir as potencialidades de uma estratégia formativa, desenvolvida na formação inicial de professores do 1.º Ciclo do Ensino Básico, com foco no desenvolvimento de competências didáticas para a contextualização do ensino da matemática a partir de aspetos culturais abrangentes, situados na história e no espaço. A abordagem envolveu os futuros professores na planificação e implementação de itinerários didáticos, em que conteúdos curriculares foram trabalhados a partir de elementos da vida e obra do renomado médico e humanista renascentista Amato Lusitano.

(Fátima Regina Jorge)

Entrelaces com educação matemática e cultura

Matemática e Cultura são conceitos com os quais estamos familiarizados e que são amplamente estudados. Menos frequente são as perspetivas que os colocam em relação! A sensibilidade e o entendimento das interações entre os dois são permeáveis à educação matemática e influenciam a forma como ensinamos, como avaliamos e, consequentemente, como os alunos aprendem matemática.

Atualmente os ambientes multiculturais das salas de aula nas escolas em Portugal tornam emergentes várias reflexões, entre elas, o significado dos contextos selecionados e o conhecimento de quem são os alunos e onde se encontram. Assim, considerarmos os seus interesses estabelecendo conexões com o conhecimento prévio dos alunos, com a sua realidade do dia-a-dia e com as suas expectativas futuras podem ser aspetos diferenciadores nas abordagens que fazemos relativamente ao estudo da matemática.

Numa tentativa de aproximar os assuntos mundanos da matemática trabalhada em contexto escolar, as conexões matemáticas e a etnomatemática podem ser articuladas, na medida em que as primeiras relacionam ideias matemáticas e a segunda procura explorar essas ideias de modo a construir “caminhos” entre diferentes representações de conhecimento matemático.

Neste painel serão abordados alguns episódios suscetíveis de promoverem reflexões sobre a interligação da matemática e da cultura com base numa perspetiva integrada da educação matemática.

(Joana Latas)

A integração da história da matemática em sala de aula pode constituir uma prática de ensino e aprendizagem potenciadora do desenvolvimento da cultura matemática dos alunos. O interesse pela integração da história da matemática nas aulas de matemática baseia-se de que o seu uso proporciona a que a matemática seja vista como um esforço humano, dado que permite observar as múltiplas facetas do desenvolvimento de conceitos e teorias, o que possibilita ainda a identificação de obstáculos inerentes à própria compreensão matemática. Além disso, a história da matemática permite colocar objetos matemáticos em contextos problemáticos específicos, realçando a evolução do rigor, as ideologias, os métodos, as formas de discurso e as relações com outras áreas do conhecimento

Nos últimos tempos, é possível encontrar na literatura diferentes argumentos que sustentam a pertinência da integração da história da matemática no ensino, existindo algumas investigações que apontam quer o potencial papel da história da matemática na educação matemática quer formas de proceder à sua integração em contexto de sala de aula. Na verdade, a integração da história da matemática em contexto de sala de aula tem despertado, ao longo das últimas décadas, a atenção dos educadores matemáticos, o que surge plasmado nos diferentes documentos curriculares e em diferentes artigos de investigação. No entanto, e apesar destas considerações, a sua expressão em contexto de sala de aula é ainda pouco expressiva, sendo apontados diversos fatores, considerados pelos professores, como dissuasores à integração da história da matemática nas suas práticas.

Pretende-se, assim, neste painel contribuir para elucidar alguns dos cenários passíveis de serem abordados com o propósito de ajudar a organização e estruturar a discussão sobre “porquês” e “como” utilizar a história da matemática no ensino e na aprendizagem de matemática, bem como formas de construir tarefas, alicerçadas na história, que permitam desenvolver diferentes capacidades matemáticas como a comunicação, a argumentação, o uso de representações e o estabelecimento de conexões.

(Paulo Gil)

Neste painel, contamos com a participação de:

Isabel Vale – Professora Coordenadora do Instituto Politécnico de Viana do Castelo

Fátima Regina Jorge – Professora Coordenadora do Instituto Politécnico de Castelo Branco

Joana Latas – Investigadora, Centro de Investigação em Educação e Psicologia da Universidade de Évora e professora no Agrupamento de Escolas de Vila Viçosa

Paulo Gil – Professor no Agrupamento de Escolas de Pinheiro, Doutor em Ciências da Educação

Moderadora:

Teresa B. Neto – CIDTFF, Universidade de Aveiro